A História do Condomínio – Edifício Holiday – Recife – PE

Ano da construção: 1957

 

Em bairro luxuoso do Recife, edifício mais icônico é o refúgio da classe trabalhador Construído em 1957, o Holiday foi o símbolo da expansão imobiliária na praia de Boa Viagem. Imóvel abriga cerca de 2.000 pessoas, mas se degradou ao longo do tempo.

Uma fila de pessoas se forma para entrar no elevador. São três, mas apenas um funciona. E não raramente quebra. Uma vez dentro, o ascensorista Felipe Costa, de 26 anos, puxa com força sua porta interna para que feche. E mesmo assim não fecha por completo, deixando o poço à mostra. Nem todos os botões funcionam e alguns estão cobertos por fita isolante. Um enorme, velho e barulhento ventilador no teto trata de amenizar o calor do elevador lotado, que em movimento faz um barulho semelhante a um motor de carro. Parece que foi o que restou de um terremoto, de uma guerra, ou que simplesmente o tempo não passou. O que vale é o último caso, apesar de estarmos no meio do rico bairro de Boa Viagem, em meio a modernos e luxuosos prédios à beira mar, no Recife (Pernambuco). Mais precisamente diante de um ícone arquitetônico: o edifício Holiday, uma imensa estrutura de concreto curvada, em forma de meia lua, com 17 andares.

 

Chama a atenção sua peculiar arquitetura, que se destaca entre os demais imóveis, assim como o alto grau de deterioração de suas paredes e janelas, o lixo acumulado aos seus pés e a pobreza em seu entorno. O prédio que outrora foi todo um símbolo da expansão imobiliária no bairro tornou-se, ao longo do tempo, uma espécie de favela vertical que abriga cerca de 2.000 pessoas, distribuídas em 476 apartamentos — 28 por andar. Um lugar com famílias humildes cravado no meio de um território disputado pela elite econômica pernambucana.

Projetado por arquitetos modernistas e inaugurado em 1957, o prédio conta com umas três dezenas de comércios espalhados em seu pátio, que servem seus moradores e faz com que o imóvel tenha uma dinâmica própria, como se de fato fosse uma pequena cidade. Ainda que seja menor, faz lembrar do emblemático Copan, de São Paulo, que também teve sua fase de decadência. Projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado depois do Holiday, em 1966, não demorou muito para que fosse considerado um grande cortiço vertical devido ao perfil de moradores que habitavam seus 1.160 apartamentos. Começou a recuperar prestígio mais de duas décadas depois, quando passou a atrair a classe média para o centro da cidade. Apesar de ainda ser diverso socialmente, o Copan foi se gentrificando ao longo dos últimos anos.

 

Esta gentrificação ainda não chegou no Holiday, que é habitado sobretudo por trabalhadores da redondeza: porteiros, vendedores ambulantes da praia — no pátio do edifício estão estacionadas dezenas de carroças de comida —, faxineiras, aposentados… Mas também alguns estudantes e advogados. Os apartamentos são todos pequenos porque, segundo dizem, o objetivo é que funcionassem como uma estadia de veraneio e as famílias pudessem passar o fim de semana em Boa Viagem. Outros asseguram que a ideia era transformá-lo em um hotel. Também reza a lenda que muitos homens compraram ou alugaram imóveis para que pudessem manter encontros com suas amantes. E muitas delas simplesmente foram ficando… Apesar de ter sido recentemente cenário da série Justiça, da TV Globo, não é difícil escutar o seguinte comentário na rua: “Não entra aí não, que só tem traficantes e prostitutas”.

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